
Isso não diminuía a tristeza e a tensão ao interná-lo, à insegurança da primeira vez. Mas o colo que recebi e a conversa que me apaziguou com o psiquiatra do Hospital Espírita de Porto Alegre foi tranquilizadora. O melhor era... e ela acreditava no que eu lhe contara.
Certa de que ele melhoraria, foi daquela vez que os medicamentos mudaram e ele se equilibrou.
Pais ainda administram a vida do filho, roupas podem sumir, alimentos são solicitados por ele, remédios especiais podem ter que ser fornecidos, cigarros que não podem faltar... E ir às visitas? Eu me sentia mal, detestava ter que ir à ala de internação psiquiátrica, detestava aqueles encontros com o grupo de enfermagem, pois são pessoas frequentemente duras para que possam suportar tantas dores... E os grupos com familiares, até hoje são apenas para mexer e mexer na mesma história de dor! Ninguém mais de casa o visitaria. Todos estavam cansados, provavelmente com raiva devido ao comportamento complicado dele, e que bagunçava toda a família, ainda sem idade para compreender.
Eu rejeitava essa dor ao internar, sem saber que ela ainda se repetiria por mais cinco vezes, até o momento em que o medicamento o equilibrou, que o médico deu um diagnóstico (O autismo, que eu desconfiava há muito, conforme as novas determinações psiquiátricas, se esclarecia...), o que fez com que a família repensasse tudo, inclusive as acusações de que ele pensava pela minha cabeça, que era inseguro por minha causa, que era um espião... pois contava para mim tudo que acontecia na conversa com os irmãos... várias vezes... enfim, a compreensão da sua singularidade estava na palavra autismo.
Sempre me incomodo com o acolhimento dado aos familiares em hospitais ou em CAPS. Se em vez de reclamar apenas, isso se tornasse outros capítulos em livros, quantos seriam?
Foram tantas as vezes que me senti agredida... Ninguém olha para o familiar em sua integralidade. Em sua dor de não poder ser um pai normal como outro. (Veja no início dessa matéria, como os pais se sentem...)
A IMPORTÂNCIA DO LIMITE
A cada tentativa de suicídio, mais um aprendizado de uma bipolaridade. Já percebíamos quando ele se tornava eufórico e era certo! Um tempo depois, queria morrer e não sabia motivo algum para isso. Compreender seus limites borderlines também nos ensinava.
Aprendi que a chave da casa era um "prêmio", portanto foi com a chave que conseguimos o controle de muitas situações. Quando passava do limite, perdia a chave! E a chave era a sua liberdade de agir. Sem a chave, ele se obrigava a sentar na mesa comigo e conversar sobre o acontecido, sobre o comportamento, sobre os riscos de vida...e aprendeu a negociar. Faço corretamente e sou premiado com a chave! A chave era igual à "responsabilidade".
MARILICE COSTI é Especialista em Arteterapia (AATERGS 072/0808). Escritora e editora durante 7 anos da revista O Cuidador (hoje online). Tem 8 livros publicados, conheça a opinião dos leitores aqui - A fábula do cuidador, Gatilho nas Palavras, Ressurgimento, Como controlar os lobos? Proteção para nossos filhos com problemas mentais, entre outros. Aguarde A palavra e o cuidado (Arteterapia & Literatura) para 2018.
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